quarta-feira, 27 de maio de 2009

Parabólica

Vocação de poeta
* Marco Polo
Um dos temas recorrentes na poesia de Robson Sampaio – poderia dizer uma de suas paixões, ou melhor, obsessões – é a Cidade do Recife. Está no título do seu livro anterior, O Recife & Outros Poemas e, em metonímia, neste Eu Sou Capibaribe-Poemas, no qual o nome do rio indica a urbe que ele perpassa. Esta paixão também se reafirma em poemas como “Recifense”, “Saudade danada...”, “Recife (Noturno)”, “Azul recifense”, “O Recife”, “Capibaribe e Beberibe”, “O Canto do Galo”, “Recife: só cores”; e se duplica em cidades que circundam Recife, como em “Karina-Gaivota” (uma referência a Jaboatão dos Guararapes) e em “Frevar Olinda”.

Com isso, Robson se insere entre os poetas eminentemente urbanos, que fazem da áspera paisagem urbana o seu pasto. São poemas ora celebrativos, verdadeiras declarações de amor, ora referenciais, tendo as cidades como cenários de momentos epifânicos. Sempre o poeta se identificando com o que fala, sempre se enovelando no que fala: na água do rio, no azul do céu, no frevo que percorre a rua, no vôo da gaivota, de tal forma que o próprio poeta se torna também, a certo momento, aquele rio, aquela festa, aquele vôo. Para ele “o Recife é um estado de ser...”

É ainda na cidade que outro tema caro à poesia de Robson Sampaio acontece: a boemia. É quando o poeta diz que só gosta da cidade “à noite,/ quando os abstêmios dormem/ e os boêmios saem às ruas/ em busca do nada”. Porque o que o boêmio busca é o contrário da objetividade do dia-a-dia. E é aí que poeta e boêmio se identificam, ambos buscando o inútil, aquilo que não tem serventia prática, que é intraduzível e, por isso mesmo, misterioso, inefável, e profundamente necessário à alma.
Igualmente urbano é um terceiro tema que Robson Sampaio persegue com pertinência: o problema social, principalmente quando vivenciado por crianças. Ele não consegue deixar de ver e se indignar com a presença daquela infância ultrajada pela miséria, pela violência, pela falta de chance. “Meninos sem rosto,/ de tênues traços sem cor”, ou ainda, “meninos-fantasmas,/ que se esgueiram por becos/ e esquinas desumanos”.

Não há como escapar da visão destes seres que trazem “no peito, a incredulidade/ do sofrimento”. E o poeta não deixa isso passar em branco, responsável que se sente pelas dores do mundo. Para complementar a paleta deste poeta, podemos apontar mais um tema que o assalta com freqüência: o enigma da existência. Ao constatar que “o tempo é a cruz dos homens”, o poeta percebe que “sábado é um belo dia para morrer./ Mas não um sábado qualquer./ Tem que ser um sábado de sol,/ desses das duas da tarde: brilhante e/ quente, como deve ser a vida”. Robson Sampaio confirma neste livro a sua vocação de poeta.
* Jornalista, poeta e editor da Revista Continente Multicultural.

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