segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Poesias

Recife Antigo

Nos botequins de ontem,
relembro velhos e novos amores
e carrego, por ruas e becos,
o presente e o passado,
simbiose de eterna saudade.
Então, batem as lembranças:
nada mudou no Recife Antigo,
onde poetas, bêbados e vagabundos
vagueiam, à noite, feitos zumbis.
Somos os sonâmbulos da boemia,
animais sedentos de amor e de paixão,
que recolhem pedaços da carne
só para salvar a alma e, assim,
alcançar o perdão.
Nada mudou no Recife Antigo,
onde as faces sofridas se multiplicam
iguais e com sulcos talhados de dor...
Somos os compositores das canções da vida,
os poetas dos poemas passageiros,
os artesãos que juntam trapos e confeccionam,
diuturnamente, o eterno uniforme do Recife Antigo.
Formamos o cordão dos desesperados,
de alegrias furtivas, de sonhos perdidos
e de vontades saciadas, quase sempre,
em corpos estranhos.
Mas, nada mudou no Recife Antigo,
onde a sinfonia prossegue até o clarear dos arrecifes.
E, nós, em passos trôpegos, buscamos a Estrela Guia,
entoando o canto mágico do faz de conta.
Assim, transformamos o nada em tudo
e o imaginário em imaginação,
enquanto a música melosa é ouvida mais forte
nos puteiros do Recife Antigo.
Onde, nada muda...

Agosto
A ventania varre o Recife todo.
É agosto. Mas, não varre a miséria,
a sujeira e a indignidade.
Porém, prenuncia o calor do verão.
É o mês do desgosto?

Nas ruas, becos e pontes, esvoaça saias,
despe o recato e reimagina vontades,
enquanto as mulheres sonham com
a vadiação...
Alegria?
Aos homens, suscita o bem-querer
e estimula a bebedeira do dia-a-dia.
Agosto, desgostos, vontades e vadiação...
Apocalipse das tentações?



Choramingar da viola
O choramingar da velha e ensebada viola
emite sons que parecem rezas abençoadas
por santos puros e impuros:
Sacrilégio?
O choramingar da velha e ensebada viola
entoa cânticos em dias de festas nas antigas
ruas e igrejas:
Profano e Religioso?
O choramingar da velha e ensebada viola
ecoa no oráculo sem perdão dos rituais sacramentos
e dos sentimentos do povo:
Inquisição?
O choramingar da velha e ensebada viola
já não alcança a surdez dos desertos de hoje:
A bença, mãe! A bença, pai!
Salvação?



Desabafo
Eu queria falar
Faltaram palavras
Eu queria gritar
Faltou voz
Eu queria chorar
Faltaram lágrimas
Eu queria sorrir
Faltou alegria
Eu queria ser bom
Faltou compreensão
Eu queria ser mau
Faltou coragem
Eu queria ter fé
Faltou crença
Eu queria ser feliz
Faltou você
Sinfonia dos Vagabundos

Vagabundos, uni-vos!
Vinde louvar o Recife e
compor a Sinfonia dos poetas,
boêmios e miseráveis.
Vaguemos pelas ruas sujas e
fétidas, onde chagas de dor
e de desespero são expostas na
Sinfonia de todos os dias.
Vagabundos, uni-vos!
Vinde louvar o Recife e
ouvir a ladainha das devotas
beatas a compor a Sinfonia
dos pecadores de corpo e de alma.
Vagabundos, uni-vos!
Vinde louvar o Recife e
cantar o frevo-canção de dor,
de tristeza e de saudade,
num cântico excêntrico da
Sinfonia dos Vagabundos...


Eu sou Capibaribe
Dos mangues do rio arranquei
a carne da sobrevivência:
as iguarias das mesas das sirigaitas.
Das águas do rio tirei
o som da flauta;
a composição dos pássaros,
a sinfonia de todos os cânticos.
Vim de muito longe,
passei por Beberibe;
eu sou recifense,
eu sou Capibaribe.
Nas correntezas do rio embalei
os nossos sonhos,
o mergulho profundo:
ora vida, ora morte.
Vim de muito longe,
passei por Beberibe;
eu sou recifense,
eu sou Capibaribe.
* A Zé da Flauta

Mulher
Mulher-menina
Mulher-amiga
Mulher-briga (ou intriga)
Mulher-amada (ou desejada)
Mulher-amor,
Ah, o amor!
Amor-gostoso
Sem aval (ou endosso)
Amor-verdade
Amor-instinto
Amor-paixão
Amor-amor
Mulher-saudade

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