sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Parabólica

Inversão de valores

*Robson Sampaio

Carta enviada de uma mãe para outra, em São Paulo, após noticiário na TV, e que demonstra, claramente, que o nosso País está na contramão dos verdadeiros conceitos sociais, morais e éticos.: “De mãe para mãe... Vi o seu enérgico protesto diante das câmeras de televisão contra a transferência do seu filho, menor infrator, das dependências da Febem, em São Paulo, para outra dependência da Febem, no Interior do Estado. Vi você se queixando da distância que agora a separa do seu filho, das dificuldades e das despesas que passou a ter para visitá-lo, bem como de outros inconvenientes decorrentes da transferência. Vi também toda a cobertura que a mídia deu para o fato, assim como vi que não só você, mas igualmente outras mães na mesma situação que você, contam com o apoio de comissões pastorais, órgãos e entidades de defesa de Direitos Humanos, ONGs, etc... Eu também sou mãe e, assim, posso compreender o seu protesto. Enorme é a distância que me separa do meu filho. Trabalhando e ganhando pouco, idênticas são as dificuldades e as despesas que tenho para visitá-lo. Com muito sacrifício, só posso fazê-lo, aos domingos, porque labuto, inclusive aos sábados, para auxiliar no sustento e educação do resto da família. Felizmente, conto com o meu companheiro, que desempenha, para mim, importante papel de amigo e conselheiro espiritual. Se você ainda não sabe, sou a mãe daquele jovem que o seu filho matou estupidamente num assalto a uma vídeo locadora, onde ele, meu filho, trabalhava durante o dia para pagar os estudos à noite. No próximo domingo, quando você estiver abraçando, beijando e fazendo carícias no seu filho, eu estarei visitando o meu e depositando flores no seu humilde túmulo, num cemitério da periferia de São Paulo... Ah!, ia me esquecendo: e também ganhando pouco e sustentando a casa. Pode ficar tranqüila, viu, que eu estarei pagando de novo, o colchão que seu querido filho queimou lá na última rebelião da Febem. No cemitério, nem na minha casa, nunca apareceu nenhum representante destas “entidades” que tanto lhe confortam, para me dar uma palavra de conforto e, talvez, me indicar “os meus direitos”. Tento imaginar a dor dessa mãe. Faça circular este manifesto e, talvez, a gente consiga contribuir com esta inversão de valores (falta de vergonha na cara) que assola o Brasil dos dias de hoje.

*Jornalista, poeta e colunista da Folha da Cidade

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