sexta-feira, 23 de julho de 2010

Parabólica

Vítimas das enchentes

Milhares de cidadãos das cidades atingidas pelas enchentes, em Pernambuco, continuam necessitadas e a campanha do Governo do Estado para arrecadar donativos prossegue, no Comando Geral da Polícia Militar, no Derby, e no Corpo de Bombeiros Militar, na Avenida João de Barros. Estes são os principais pontos de arrecadação, mas unidades desses órgãos também recebem doações no Interior. Podem ser doados alimentos não-perecíveis, roupas, agasalhos, materiais de higiene e limpeza e água. Para quem está fora do Estado, o Governo recomenda o depósito de qualquer quantia em dinheiro na conta do Tribunal Solidário: Banco Real, Agência 1016, conta-corrente 6.023.076-2. A ONG Tribunal Solidário, formada por servidores do Tribunal de Contas do Estado, disponibilizou conta bancária para doações. Informações: www.tribunalsolidario.org.br. Doações ainda na Associação de Moradores do Pina, Boa Viagem e Setubal (apbsrecifepe@click21.com.br, 9142.2712 e 3466.6292), Igreja Batista Emanuel de Boa Viagem, Paróquia Nª Srª da Boa Viagem, Paróquia Nª Srª de Fátima da Boa Viagem, PMPE-19º BPM e Rotary Recife-Boa Viagem.

Allco - Hoje, às 19h30, será a posse dos novos membros da Academia de Artes, Letras e Ciências de Olinda (Allco), no Mosteiro de São Bento, em Olinda, com apresentações musicais, incluindo canto gregoriano. O atual presidente da instituição é o poeta Carlos Severiano Cavalcanti. As reuniões da Academia são abertas ao público e acontecem, às segundas e terças-feiras, das 15h às 18h, no Instituto Histórico de Olinda

Tem gente passando fome

Falta comida para as pessoas das cidades atingidas pelas enchentes em Pernambuco, como feijão, arroz, farinha, açúcar, café, macarrão, leite, água mineral e por aí vai. Para se ter uma ideia, no dia 11 passado, o fotógrafo da Folha, Arthur Mota, fez o seguinte flagrante, em Palmares: um comerciante abriu o armazém para que as pessoas pegassem alimentos, porém estavam no meio da lama. Esta criança lavou a mortadela, na própria lama, para depois comer.

O que é isso, companheiro?

O leitor Hibernon Olegário da Silva reclama que a agência da Caixa Econômica Federal, da Avenida Guararapes, disponibiliza, aos usuários, sanitários comuns (feminino/masculino) no mesmo cubículo. O que é pior: sem fechadura. Um absurdo.

Escuridão

A escuridão tomou conta, ontem, da Rua Vigário Tenório, no trecho que vai da Secretaria de Administração até a Avenida Alfredo Lisboa, no Bairro do Recife. Os cidadãos estão com medo de assaltos e pedem providências à Prefeitura do Recife.

Lâmpadas

Em atenção ao leitor Carlos Alberto de Sá Costa, a Celpe informa que fez inspeção, no Loteamento Alto do Morumbi, em Paratibe, e a maioria das lâmpadas está irregular. E que irá interagir ,com a Prefeitura de Paulista, para normalizar a situação.



Poste - Sobre as faíscas num poste, nas ruas Souza Bandeira e Cantora Clara Nunes, na Torre, a Celpe substituiu os condutores da rede elétrica. E a Compesa, consertou o vazamento de um cano, na Av. Stª Lúcia, em Candeias.

Travassos - O Projeto Sextas Musicais, do Galo da Madrugada, apresenta, hoje, o show “Pela primeira vez..., com Gustavo Travassos, interpretando Roberto Carlos. Às 21h, no Palácio Enéas Freire, na Rua da Concórdia,984, fone 3224.2899.

Congresso - Com o apoio da Fecomércio, acontece, amanhã e domingo, o 1º Congresso Pernambucano de Empreendedorismo. Visa ampliar o debate sobre a necessidade de uma educação empreendedora. Inscrições: www.cpeje.com.br.

Hércules - A Unipaz Recife promove, de amanhã a domingo, o seminário Os Doze Trabalhos de Hércules, com a facilitadora Lala Deheinzelin. Inscrições: Rua Enéas Lucena, 244, Encruzilhada, 3244-2742 e www.unipazrecife.org.br.

POESIAS/Robson Sampaio -

Dos livros O Recife & Outros Poemas (Cepe-2007) e Eu Sou Capibaribe - Poemas (Instituto Maximiano Camos/Edições Bagaço - 2009).


1 - Eu sou Capibaribe

Dos mangues do rio arranquei
a carne da sobrevivência:
as iguarias das mesas das sirigaitas.

Das águas do rio tirei
o som da flauta;
a composição dos pássaros,
a sinfonia de todos os cânticos.

Vim de muito longe,
passei por Beberibe;
eu sou recifense,
eu sou Capibaribe.

Nas correntezas do rio embalei
os nossos sonhos,
o mergulho profundo:
ora vida, ora morte.

Vim de muito longe,
passei por Beberibe;
eu sou recifense,
eu sou Capibaribe.

* A Zé da Flauta



2- Recifense...

Nas águas eternas do Rio Capibaribe,
naveguei sonhos e derramei lágrimas
de tristezas e de alegrias.

Nas ondas salgadas da Praia de Boa Viagem,
molhei o corpo e purifiquei a alma.

Nas pontes históricas do Recife,
forjei o destino e percorri as trilhas
da vida.

E, só assim, me tornei recifense...



3 - Adeus, meu Capitão!

Sol de fogo,
terra batida,
punhal e mosquetão.
Treme a caatinga
com medo do Capitão.

Calam-se, as armas!
Maria Bonita com
a flor na mão.
Treme em desejos
o amor de Lampião.

Fogo cruzado,
tocaia grande,
só danação!
Treme Angicos,
Adeus, meu Capitão!



4 - Filhos da Caatinga

Ôxente, meu fio,
cadê o boi no cercado
e toda aquela plantação?
Foi embora no vento,
sumiu tudo no céu,
feito ave de arribação.
Agora, é só terra em brasas,
ardendo que nem tição.

Do gado só as cabeças,
igual assombração.
Feito rio escorregadio,
a terra plantada se foi,
levada no deslize do chão.
Ai, que tamanha judiação.

Inhô, num gema não,
basta de choro e reza,
feitos só de lamentação.
A terra é seca e batida,
igual alma sem alumiação,
mas, de gente com fé no Santo,
indo e vindo, solta pelo Sertão.

São os filhos da Caatinga,
sofrendo toda humilhação.
Mas, briga, mata, esfola ou morre,
mesmo sem ser Lampião.
Ôxente, sêo Capitão,
Virge, Santa Maria,
pra quê ser tão valentão?
Num tem nem quase a vida
e, muito menos, esse chão.

Crz credo, Ave Maria,
dê-me a benção Padim Ciço,
pois, é só dor no meu Sertão.
Mas, juro meu Santo querido,
que de fome, a gente num morre não.


5 - Sertão

Gente sem rumo, pé na estrada
Pão dormido, alma penada
Povo sofrido, assombração!

(sem eira nem, beira, de cuia na mão)


Rio sem água, caçuá vazio
Gado sem pasto, boi sem cabeça
Povo sofrido, judiação!

(sem eira nem beira, de cuia na mão)


Gente sem rumo, pé na estrada
Terra em brasas, feito tição
Povo sofrido, Sertão!

· A Ascenso Ferreira




6 - O Divisor é o Tempo...

O divisor é o tempo...
Torna a vida mais vida
e a morte mais morte.
Contraponto que induz
à busca do nada.

O divisor é o tempo...
Encurta a distância do sempre
na ilusão de tudo.
A vida é a morte,
a morte é a vida.
O divisor é o tempo...


7 - Sertanejo da dor

O sopro surdo do vento
parece murmúrio de vozes
em lamento pela morte.
A madrugada foge num repente
danado com medo do amanhecer.
Sob o sol, os cascalhos e a terra areosa
refletem a imagem do céu.
Sina?

Na trilha de pó, pedras e galhos secos,
o sertanejo caminha entre crenças e
esperanças de cangaceiros.
Um penar sem fim?

No peito carrega o grito
do deserto-desesperança. A benção nunca
chega, apesar das rezas de virgens órfãs,
criadas por devotas beatas.
Santuário?

“Valei-me, meu padim-padre Ciço!”,
prece de fé e de desespero. A morte é
a passagem da Salvação?

O chão é um mar em brasas,
com a folhagem sem cor e a natureza
perdendo a vida. E a caatinga vira léguas
de judiação do sertanejo da dor.
Penitência?

8 - Gotejos...

Um tiquinho d’ água fluindo,
naquela vastidão de chão,
traz para a minha alma a
saudade de uma terra, que
nem o tempo me fez esquecer.

Lá adiante, corre um fiozinho d’ água
a inundar os meus olhos e as lágrimas
descem pela minha face molhada,
com a água daquele riachinho
transbordando de lembranças.

E daquele riachinho, a ermo,
na imensidão da terra seca,
pingam gotas de emoções a
deslizar tempo afora.
São os gotejos da minha vida.


9 - Meninos de Rua

Meninos de rua
gente sem nome
Meninos das pontes
gente sem teto
Meninos dos ventos
gente sem mundo
Meninos do nada
gente sem alma

Cavaleiros do medo, cavaleiros da morte,
guardai as armas, guardai o ódio,
bastaria, apenas, um simples brinquedo...


Meninos de rua
gente sem nome
Meninos da fome
gente sem paz
Meninos do vício
gente sem lei
Meninos do crime
gente sem perdão

Cavaleiros do medo, cavaleiros da morte,
guardai as armas, guardai o ódio,
bastaria, apenas, um simples brinquedo...

Meninos de rua
gente sem nome
Meninos da cola
gente sem riso
Meninos da cruz
gente sem fé
Meninos da dor
gente sem choro

Cavaleiros do medo, cavaleiros da morte,
guardai as armas, guardai o ódio,
bastaria, apenas, um simples brinquedo...

Meninos de rua
gente sem nome
Meninos do passo
gente sem frevo
Meninos do povo
gente sem rosto
Meninos da vida
gente sem gente...



10 - Espanto

Sombras, sombras
e mais sombras
Dia, noite, madrugada,
Assombrosas,
Mal-assombradas,
Embruxadas,
Enfeitiçadas,

Dia, noite, madrugada,

Maléficas,
Soturnas,
Escuras
Fantasmagóricas

Dia, noite, madrugada

Pavorosas
Medonhas
Horrorosas
Macabras
Tênues réstias
das mortes.


11 - Pivete

Moleque de rua
Filho do cão
Frio na pele
Dor da solidão
Criança sem rumo
Pega o ladrão!

Moleque de rua
Filho do cão
Grito de raiva
Chute e bofetão
Canivete na mão
Não sei não...

Moleque de rua
Filho do cão
Talho na carne
Sangue não chão
Morte na calçada
O “dotô” sem razão.
Dai-me, a vida,
Dai-me, o pão!
Vai pivete pra prisão...


12 - Silhueta...

No caminho sem endereço
das ruas sujas e poeirentas,
segues menino sem futuro
nem ninguém.
Apenas, uma silhueta...

E, assim mesmo, sozinho,
com vestes toscas e rasgadas,
ainda assobias uma música
qualquer...

Só, levas uma bola de meia na mão,
sem tristezas nem tormentos, e
segues com a inocência singular
de ser apenas criança...


13 - Sem vacinas

Cão vadio, solto nas favelas (sujo, esquálido
e faminto) – aos milhões.

Cão raivoso, solto nas ruas (colérico, danoso
e assassino) – aos milhares.

Cão farejador, solto nos quartéis (investigador, repressor
e violento) – aos milhares.

Cão de raça, solto nos condomínios (forte, limpo
e perfumado) – aos milhões.

Cão de caça, solto nos gabinetes (ditador, especulador
e opressor ) – aos milhares.

Cão infiel, solto nas tribunas (narcisista, embusteiro
e fisiológico) – aos milhares.

Matilhas sem vacinas – Todos!



14 - Tempo do Tempo

Marcas do tempo
Tempo de nada
Tempo de tudo
Tempo de sempre
Tempo do homem
Homem do tempo
Tempo da vida
Tempo da morte
Tempo eterno
Tempo do tempo
(passado, presente
e futuro).

· A Rafael Coelho.




15 - Saudade danada...

Recife,
cadê teus arraiais,
canaviais, mucamas
e sinhazinhas?
- Casa-Grande

Recife,
cadê teu forró,
ciranda, maracatu
e frevo?
- Carnaval

Recife,
cadê teu mar,
pontes, praças
e rios?
- Beberibe e Capibaribe

Recife,
cadê teus boêmios,
bares, batida gelada
e mulheres?
- Poesia

Recife,
não mais te encontro
e sinto uma saudade
danada...



16 - O Recife

O Recife não é uma aldeia.
- O Recife é um estado de ser...
Suas luzes, naturais ou artificiais,
não são luzes e, sim, o alumiar
dos teus olhos.

Reflexos de todos nós,
recifenses ou arrecifensados,
onde as luzes não são luzes,
mas olhos debruçados sobre
o Capibaribe, um traço indivisível
de ser o Recife...



17 - Águas do Mar

Há um cheiro de mulher no ar,
uma mistura com o cheiro
das águas do mar.

Há corpos seminus,
deitados nas areias mornas
do mar.

Há mulheres nas ruas: negras,
brancas, loiras, morenas, mulatas,
todas com o gosto dos frutos
do mar.

Há olhares, gestos, promessas e
sorrisos entre homens e mulheres,
em cumplicidade com o sol e
embalados nas ondas
do mar.

Há ternura, solidão, juras de amor,
paixões desenfreadas, que só o
verão recifense pode dar
nas águas do mar


18 - Duas lágrimas...

Amparei as duas lágrimas
em cada uma das minhas mãos
e as beijei.
E elas transformaram-se
em águas do mar...

Salgadas, sim!
Dolorosas, sim!
Saudosas, sim!

Duas lágrimas nas palmas das mãos
e apenas um coração.
Numa dor que, só na saudade,
se é capaz de sentir em nome do amor...



19 - O tempo é a cruz dos homens...

O tempo é a cruz dos homens...
No fardo de todas as lembranças
Nas vontades largadas pelos caminhos
Nos amores perdidos pelos desamores

O tempo é a cruz dos homens...
No recriar sem criatividade
No reprisar dos porres endêmicos
No sonhar dos sonhos não sonhados

O tempo é a cruz dos homens...
Nos recomeços sem começos
Nos fracassos dissimulados
Nas mortes sem sepultamentos...


20 - Gotas de orvalho
Dos meus olhos gotejam lágrimas,
que são pingos de gotas de orvalho
numa manhã de chuvas naquele jardim.

Onde a saudade é transformada em nuvens
escuras, a encobrir o brilho dos raios do Sol e,
só para marcar ainda mais, a dor da saudade
daquela mulher.

Uma saudade medonha, danada, desesperada,
chamada amor, e que rasga as minhas entranhas
e queima para sempre a minha alma.

Que também está inundada com os gotejos,
que caem dos meus olhos e, são, na verdade,
pingos de saudade pela perda definitiva
daquela mulher.


21 - Bares na palma da mão ou Bailes?

Notícias populares,
nem tão amiúdes assim,
anunciam novos bares.
Meros pretextos para modismos
e falsas boemias.

Alguns tão sem graça,
outros tão similares.
Bares, aos milhares.

Bares mesmo,
onde embriago as minhas emoções,
conto nos dedos e os trago
na palma da mão: Dom Pedro, Savoy,
Gambrinus, Portuguesa e Royal.


22 - Entardecer
O mistério do entardecer no verão recifense
ilumina o Capibaribe e reflete a alma:
Pernambuco.
O mistério do entardecer no verão recifense
anuncia o som dos clarins de Momo:
Passo e frevo.
O mistério do entardecer no verão recifense
sugere águas mornas e areias quentes:
Azul do mar.
O mistério do entardecer no verão recifense
reacende o calor das mulheres que brincam de sedução:
Vontades ardentes.


23 - Nossos olhares...

Nos olhamos
E ela foi embora
Levando o meu olhar...
Pouco antes,
Nos cumprimentamos
Como se fossemos
Estranhos...
Logo depois,
Ela foi embora
Levando o meu olhar...
E eu fiquei,
Até hoje, com os
Olhos do seu olhar...


24 - Olhos flamejantes...

Olhos flamejantes,
os teus...
- Diamantes ou rubis?
Brilho incandescente,
fonte natural de desejo

Olhos flamejantes
os teus...
- Diamantes ou rubis?
Luz maior que o Sol
vontade de me queimar.

Olhos flamejantes,
os teus...
- Diamantes ou rubis?
Faíscas ardentes,
brasas para me arder.

Olhos flamejantes,
os teus...
- Diamantes ou rubis?
Raios a riscar o Céu e
a penetrar nos meus...


25 - Saudade de você

Saudade?
Sim, saudade
do teu corpo.
Só de teu corpo?
Não.
De tua boca
tua pele, teu odor,
teu olhar.

Saudade
de tua voz, teus sussurros,
teus abraços, teus gemidos.

Saudade
de teu sorriso, tuas mãos,
tuas brigas,
do teu jeito se ser.

Saudade,
grande, imensa, descomedida,
a sangrar no meu peito e
a calar a minha voz.
Saudade,
de você...


26 - Desabafo

Eu queria falar
Faltaram palavras
Eu queria gritar
Faltou voz
Eu queria chorar
Faltaram lágrimas
Eu queria sorrir
Faltou alegria
Eu queria ser bom
Faltou compreensão
Eu queria ser mau
Faltou coragem
Eu queria ter fé
Faltou crença
Eu queria ser feliz
Faltou você...



27 - Gambrinus

Gambrinus,
porto-bar mais que seguro
do velho Bairro do Recife,
roteiro de andantes de todos
os mares e oásis dos sedentos
de amor e de saudade...

Gambrinus,
porto-bar mais que seguro
do velho Bairro do Recife,
templo único de vontades e
frustrações tão antigas quanto
os sonhos de cada um...

Gambrinus,
porto-bar mais que seguro
do velho Bairro do Recife,
onde poetas e boêmios compõem,
no tilintar dos copos, a sinfonia
das ondas do mar no arrebentar dos
arrecifes...



28 - Recife (Noturno)

Só gosto de ti à noite,
quando os abstêmios dormem
e os boêmios saem às ruas
em busca do nada.

Só gosto de ti à noite,
quando batem lembranças
de amor e de sonhos perdidos
no tempo.

Só gosto de ti à noite,
quando me debruço sobre
o Rio Capibaribe e, assim, consigo
ver a minha alma e a chorar
a dor do mundo.

Só gosto de ti à noite,
quando pertences por inteiro
aos boêmios, vagabundos
e poetas.

* À poetisa Cida Pedrosa



29 - Sinfonia dos Vagabundos

Vagabundos, uni-vos!
Vinde louvar o Recife e
compor a Sinfonia dos poetas,
boêmios e miseráveis.
Vaguemos pelas ruas sujas e
fétidas, onde chagas de dor
e de desespero são expostas na
Sinfonia de todos os dias.

Vagabundos, uni-vos!
Vinde louvar o Recife e
ouvir a ladainha das devotas
beatas a compor a Sinfonia
dos pecadores de corpo e de alma.

Vagabundos, uni-vos!
Vinde louvar o Recife e
cantar o frevo-canção de dor,
de tristeza e de saudade,
num cântico excêntrico da
Sinfonia dos Vagabundos...


30 - Louco?

Cada um carrega
a sua fantasia,
mesmo que seja a
própria cruz.

Uns preferem o mutismo,
outros, o alarde.

Nem por isso,
o ruído é diferente,
menos ensurdecedor,
ou o caminhar é inverso.


31 - Bobagens?

Sonhos sonhados
Vidas vividas
Desejos desejados
Espaços imaginários
Bobagens?

Cantos cantados
Choros chorados
Lágrimas salgadas
Espaços imaginários
Bobagens?

Dores doídas
Frevos frevados
Amores amados
Espaços imaginários
Bobagens?
Lindas bobagens,
que devem ser vividas


32 - Dor é dor...

Dor não se mede
Dor não se compara
Dor é dor..

Dor da saudade
Dor do amor
Dor da fome
Dor do parto
Dor da vida
Dor da dor...

Dor se sofre
Dor se cura
Dor é dor...



33 - Sombras

Nas esquinas, ,
as sombras,
nas sombras,
cada um de nós:
loucos, bêbados,
miseráveis,
os sem-nada

Fantasmas a
se esgueirar por
becos e vielas sombrios,
encobertos pelas vestes
negras da noite.
A fugir do presente,
a esquecer o passado
e sem ter o futuro

Nas esquinas,
as sombras,
nas sombras,
eu, você e o Recife...




34 - Recife: só cores

Recife...
Dos meus amores e dores
Dos meus sonhos e dissabores
Dos meus quitutes e sabores
Dos meus engenhos e licores
Das minhas certezas e temores
Dos meus jardins e flores
Dos meus perfumes e odores
Dos meus cânticos e louvores
Do meu frevo e compositores
Das nossas Marias e Dolores.
Recife, tu és só cores!


35 - Folião Sem Nome
Folião sem nome,
perdido no meio do racha,
homem mulher e criança,
passos quase sem graça

Olhos eufóricos de sonhos,
suor regado à cachaça,
segue folião sem nome
alegre no bloco que passa

Ferver, frever, frevar,
ritmo e dança de uma raça,
vai folião sem nome
frevar o frevo na praça...




36 - A vida da gente morrendo...

Chope, cigarro, música, fantasia
e lá vai a vida da gente passando...
Outro chope, cansaço, queixas, salários
e lá vai a vida da gente passando...

Mais chope, cigarro, música, fantasia
e lá vai a vida da gente anoitecendo...
Agora pressa, que pressa, de pé no balcão,
que pressa que nada, fim de noite, sorrisos
e lá vai a vida da gente amanhecendo...

Sempre chope, cigarro, música, fantasia,
só madrugada, só fumaça, só bebedeira
e lá vai a vida da gente morrendo...



37 - Um belo dia para morrer...

Sábado é um belo dia para morrer.
Mas, não um sábado qualquer,
desses de fim de tarde ou de dias
chuvosos: escuro, triste, monótono,
onde não se vê a luz das meninas
dos olhos ou os desejos da dona
desses olhos.

Sábado é um belo dia para morrer.
Mas, não um sábado qualquer.
Tem que ser um sábado de sol,
desses das duas da tarde: brilhante e
quente, como deve ser a vida.
Afinal, a morte é o mistério da vida e
a vida é o mistério do homem....


38 - Os mortos riem...

No Dia dos Mortos,
os mortos riem do choro
e das rezas dos vivos,
lamúrias perturbadoras
da paz e do silêncio
do Campo Santo.

Os mortos riem tal qual
hienas: sorrisos permanentes...
Mas, os vivos choram e choram,
rezam e rezam, enquanto os mortos
riem, riem e até gargalham...

Os mortos riem,
no Dia dos Mortos, ou não.
Tal qual hienas: sorrisos permanentes,
escárnio dos vivos-sobreviventes e mortos-vivos,
rotina da vida eternamente...


39 - Gira, vira, revira

A terra gira
a vida gira
a cabeça gira
giramos nós
gira-vira
vira-gira
vira-latas
vira-copos
tudo gira
nada vira
gira-mundo
Pomba-Gira?

Giramos nós
viramos nós
reviramos nós
revira-olho
reviravolta
vira página
gira carrossel
girassol
giravolta
revira tudo
revira nada
gira, vira, revira
Só giramos?


40 - Poesias inacabadas...

Recife,
de tardes-noites-madrugadas
de saudades das bem-amadas
de passos incertos nas calçadas...

Recife,
de gosto de peles salgadas
de corpos suados, de bocas molhadas
de vontades nem sempre saciadas...

Recife,
de belezas e cores encantadas
de cirandas e frevos eternizadas
de poesias inacabadas...


Capibaribe e Beberibe

Quando criança,
os contemplava como
se fossem oceanos.
Neles, via o meu rosto risonho
como se fossem espelhos
Eram limpos, bonitos, imensos
e de água claras.

Ás vezes, no desvario da minha sedução,
tinha a nítida impressão de que as suas
águas também eram azuis.
Nelas, eu navegava os sonhos infantis
a tear os trançados de um mundo imaginário
como se fossem realmente dois oceanos.

Agora, sem a pureza utópica
da visão de toda meninice,
só vejo águas sujas e escuras,
rescaldos da poluição e da insensatez.
Duas lágrimas, meras gotas de dor,
correm por minha face como a percorrer
dois desertos em danação..
Não, não matem os meus
oceanos infantis!


- Poetas

Os poetas,
se não são imortais,
pelo menos, são eternos.

Os poemas surgem como
relâmpagos em noites de inverno;
ou com o brilho das estrelas em noites
enluaradas.

Também, nas mesas dos bares,
na saudade do amor perdido,
na aflição de uma mãe;
ou no sorriso das crianças.

E,ainda, nos reflexos prateados
da Lua sobre o Rio Capibaribe,
marco indelével do Recife.
Por isso, digo: os poetas,
se não são imortais,
pelo menos, são eternos.

· A Roberto Santos



“Quentinha” ou “Gelada”?

Ressacado,
resolvi tomar uma:
“quentinha” ou “gelada”?
Pedi uma “gelada”, já com
a intenção de lavar a alma,
ou seria a consciência?
Engraçado, não lavei...

“Gelada”, esfriou a garganta,
o coração e as vísceras.
Aliás, pra ser sincero,
congelou a minha alma.

Sendo assim, parti pra “quentinha”,
certo de que o aumento da adrenalina
iria transformar o meu sangue num
rio de águas térmicas.
Engraçado, também não esquentei...
A “quentinha”, no máximo,
derreteu a minha fuga.

Também pudera,
ressaca entorpece a mente,
nubla os pensamentos, cerra as
pálpebras e não se cura com
“conversa mole”.
Ah, sinto que tenho que tomar outra...
“Quentinha” ou “Gelada”?


Almas do Recife

Versos, versos e mais versos
a povoar de almas o Recife.
Poemas em cada esquina,
em cada bar, em cada desilusão
enchem e perfumam ruas e bairros:
da Aurora ao Recife Antigo.
São pedaços de cada um de nós,
poetas, vivos ou mortos.
Eles, como nós, teimam em poemar
a vida no Recife e a não
dormir com a morte.
Versos, versos e mais versos!
Assim são os poetas
a povoar de almas o Recife.

Templos sublimes?

Savoy, Gambrinus,
Portuguesa e Cristal...
Ainda freqüento-os com a
memória que, às vezes,
se faz espírito...
Templos sublimes?

Dom Pedro, Royal,
Seu Lunga e Bar 75...
Os trago na memória que
sempre se faz espírito
e corpo presente.
Templos sublimes...

Dia-a-dia ou Noite-Madrugada?

No ar, o som da canção,
que vira poesia;
na mesa, o gole do uísque,
que lava a alma e os pecados;
na mão, o cigarro de sempre;
e no olhar, o tempo que passa
e as marcas que ficam...
Templos sublimes?


Choramingar da viola

O choramingar da velha e ensebada viola
emite sons que parecem rezas abençoadas
por santos puros e impuros:
Sacrilégio?

O choramingar da velha e ensebada viola
entoa cânticos em dias de festas nas antigas
ruas e igrejas:
Profano e Religioso?

O choramingar da velha e ensebada viola
ecoa no oráculo sem perdão dos rituais sacramentos
e dos sentimentos do povo:
Inquisição?

O choramingar da velha e ensebada viola
já não alcança a surdez dos desertos de hoje:
A bença, mãe! A bença, pai!
Salvação?

Recife Antigo


Nos botequins de ontem,
relembro velhos e novos amores
e carrego, por ruas e becos,
o presente e o passado,
simbiose de eterna saudade.
Então, batem as lembranças:
nada mudou no Recife Antigo,
onde poetas, bêbados e vagabundos
vagueiam, à noite, feitos zumbis.

Somos os sonâmbulos da boemia,
animais sedentos de amor e de paixão,
que recolhem pedaços da carne
só para salvar a alma e, assim,
alcançar o perdão.
Nada mudou no Recife Antigo,
onde as faces sofridas se multiplicam
iguais e com sulcos talhados de dor...

Somos os compositores das canções da vida,
os poetas dos poemas passageiros,
os artesãos que juntam trapos e confeccionam,
diuturnamente, o eterno uniforme do Recife Antigo.
Formamos o cordão dos desesperados,
de alegrias furtivas, de sonhos perdidos
e de vontades saciadas, quase sempre,
em corpos estranhos.

Mas, nada mudou no Recife Antigo,
onde a sinfonia prossegue até o clarear dos arrecifes.
E, nós, em passos trôpegos, buscamos a Estrela Guia,
entoando o canto mágico do faz de conta.
Assim, transformamos o nada em tudo
e o imaginário em imaginação,
enquanto a música melosa é ouvida mais forte
nos puteiros do Recife Antigo.
Onde, nada muda...











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