domingo, 18 de outubro de 2015

Cidades Online

Teatro da Vida:

Bolachinhas de Ascenso

Um amigo do saudoso poeta Ascenso Ferreira vivia meio chateado porque a situação não permitia que o chamasse para almoçar. As coisas, lá na casa dele, andavam pra lá de ruça. Mas, um dia, a barra limpou e, então, deu para convidar o autor de “Vou danado pra Catende!” e outros grandes poemas para o tão sonhado almoço. Convite feito a Ascenso, o dito cujo começou a preparar as iguarias e comentou com a mulher: “O Ascenso come muito. Também, com aquele corpanzil. Mas, já sei o que é que eu vou fazer”. Tudo pronto, e Ascenso chega, sendo recebido com muita admiração por todos. Senta-se no terraço e o dono da casa corta uma jaca de bom tamanho e oferece a Ascenso. Ele traça a bicha e parte para o almoço. Comeu bem, como sempre comia, que quase que a comida não dava pro resto da família. No final, a mulher para ser delicada, pergunta: “Seu Ascenso, o senhor aceita um cafezinho?” Sem se fazer de rogado, o poeta arremata: “Só se for com umas bolachinhas...”



Frase:

   “O leitor é a principal matéria-prima do jornal (RS)”


Poesia:

 Recife Antigo 

 

*Robson Sampaio  

               

       Nos botequins de ontem,

relembro velhos e novos amores

e carrego, por ruas e becos,

o presente e o passado,

simbiose de eterna saudade.

Então, batem as lembranças:

nada mudou no Recife Antigo,

onde poetas, bêbados e vagabundos

vagueiam, à noite, feitos zumbis.

 

      Somos os sonâmbulos da boemia,

animais sedentos de amor e de paixão,

que recolhem pedaços da carne

só para salvar a alma e, assim,

alcançar o perdão.

Nada mudou no Recife Antigo,

onde as faces sofridas se multiplicam

iguais e com sulcos talhados de dor...


         Somos os compositores das canções da vida,

os poetas dos poemas passageiros,

os artesãos que juntam trapos e confeccionam,

diuturnamente, o eterno uniforme do Recife Antigo.

Formamos o cordão dos desesperados,

de alegrias furtivas, de sonhos perdidos

e de vontades saciadas, quase sempre,

em corpos estranhos.

 

        Mas, nada mudou no Recife Antigo,

onde a sinfonia prossegue até o clarear dos arrecifes.

E, nós, em passos trôpegos, buscamos a Estrela Guia,

entoando o canto mágico do faz de conta.

Assim, transformamos o nada em tudo

e o imaginário em imaginação,

enquanto a música melosa é ouvida mais forte

nos puteiros do Recife Antigo.

Onde, nada muda...

 * Jornalista, poeta, da Academia Recifense de Letras/Cadeira 22, e da União Brasileira de Escritores (UBE/PE).


Companheiros:
A minha coluna Cidades Online está no www.blogdorobertosantos.com, de 3ª-feira a sábado. No domingo, Teatro da Vida/Causos - Frase - Poesia. E no www.robsonsampaio.blogspot.com. Divulguem e mandem notas para o e-mail: rsampaioblog@gmail.com. Abs e obg.


Um comentário:

  1. Estas bolachinhas de Ascenso são ótimas e num texto excelente.
    Beijos Blog Unhas&Bocas
    Cláudia
    www.unhasebocas.com.br
    @blogunhasebocas

    ResponderExcluir